segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Estas cervejas agradam tanto quanto custam?


Você decide - Como não existe certo ou errado numa degustação, sugerimos que repita a prova e tire suas conclusões

Vindas de um mercado efervescente da Europa, chegam ao Brasil as primeiras cervejas artesanais italianas, da Duan, nas versões Bianca, witbier, e Ambrata, belgian ale. Mas a expectativa pela "descoberta" esbarra na etiqueta: cada garrafa de 750 ml sai por R$ 85, preço alto no mercado local, embora longe dos R$ 200 da belga Deus.

Por vezes injusta, a comparação é inevitável: "Encanta quanto custa?". No caso da Duan, estão um pouco distantes do "sim". A Bianca é adocicada em excesso, "pesada", e mostra pouco dos aromas e sabores cítricos e condimentados de uma witbier. A Ambrata é mais promissora, mas fica abaixo de outras belgian ales. Porém, não são o único caso de descompasso entre preço e cerveja.

Como as duas cervejas são de influência belga, com os mesmos R$ 85 talvez fosse melhor arriscar a volta às "raízes" com a Chimay Grand Reserve, strong ale de notas licorosas e frutadas, cuja garrafa de 750 ml custa R$ 55; uma Tripel Karmeliet, com bons aromas cítricos, a cerca de R$ 20; e a witbier "básica" Hoegaarden, que custa em média R$ 6. E sobra troco.

Fabrizio Grasso, da Beers on the Table (tel. 3571-6430), que traz as Duans, as defende. "O preço não é dos melhores, mas temos recebido elogios. E tem cervejas brasileiras que também custam R$ 80. Há ainda taxas de importação e impostos locais", afirma. "E a produção da Duan é limitada: 800 caixas ao mês, 300 delas para o Brasil."

ESPUMA NAS ALTURAS
A terceira morte em menos de um século levou Thomas Hardy às alturas. Ao menos em termos financeiros: criada em 1928 pelos 40 anos da morte do escritor inglês, teve a produção interrompida em 1999, foi retomada em 2003, mas em 2009 houve o terceiro "passamento". No Brasil, a notícia fúnebre da fermentada fez o preço da garrafa de 330 ml saltar de R$ 28 a R$ 42, na importadora Casa da Cerveja (tel. 2538-5136). "Virou preciosidade, pode ser guardada por 25 anos e restam poucas", diz a sócia Cássia Crescenti.

A cerveja ajuda: tem aromas e sabores de frutas secas e licorosidade. Mas é possível trocá-la, sem remorsos, pela strong ale Fuller’s Vintage.

Outro dilema cervejeiro é Samuel Adams Utopias, de 25% de teor alcoólico, fermentada com leveduras de champanhe e maturada em barris de uísque, conhaque e brandy. A dose de 50 ml custa nada módicos R$ 75 no Melograno, em São Paulo. "É rara, esgota ao sair da fábrica e o preço (US$ 100 a garrafa de 750 ml) duplica de cara nos EUA", diz Eduardo Passarelli, do Melograno (tel. 3031-2921). Para atormentar o degustador, a cerveja é boa, com notas de frutas secas, madeira e licorosidade. A Eisenbahn Bierlikor, licor de 30,5% e notas de café e baunilha, a partir R$ 23, não é o mesmo estilo de cerveja, mas é "plano B".

Nós viemos aqui para beber ou para nos informar?

Como o contrarrótulo da bebida pode jogar a seu favor, evitando surpresas como datas duplas de validade



Está valendo? - Siga a dica da mamãe: olhe a data. Foto: Alex Silva/AE

Nos anos 70, Adoniran Barbosa gravou comercial da Antarctica em que visitava a fábrica e ouvia de um mestre cervejeiro explicações sobre como é feita a cerveja. Já impaciente, lançava o famoso bordão: "Nós viemos aqui para beber ou para conversar?" Que me perdoe o finado compositor, mas a informação sobre a cerveja que chega ao nosso copo se torna a cada dia mais essencial.
Como ninguém tem mestre cervejeiro à disposição, uma boa fonte de informações é o contrarrótulo da garrafa (ou a lateral da latinha). Lá, o degustador deve encontrar o teor alcoólico e os ingredientes da cerveja - e saber, por exemplo, se ela é puro malte ou não. Mas há produtores que vão além e contam um pouco da história do estilo, ou como é feita a bebida.
Às vezes, um único dado na etiqueta pode causar problemas. Em 2009, a Diageo recolheu no Brasil um lote da cerveja Harp porque o contrarrótulo não trazia a obrigatória inscrição: "Não contém glúten".
A substância - e sua limitação extrema na cerveja, condição para que possa ser consumida por celíacos -, aliás, era o tema inicial desta reportagem, com a chegada ao País de oito variedades da Green’s. A marca informa ter limites de glúten dentro dos padrões internacionais para consumo por celíacos.
A princípio, foram degustadas quatro delas: a Herald, uma bitter; a Mission, uma amber; a Pathfinder, uma dubbel, e a Quest, uma tripel. Ao notar sinais de oxidação metálica em pelo menos duas delas - Herald e Pathfinder - consultei o contra-rótulo atrás de mais informações. Eis a surpresa: sobre a data de validade (ou o "best before", em inglês), havia etiqueta indicando 2011. Em três delas, porém, essa indicação estava sobreposta a outra, marcada no próprio rótulo, que apontava datas em julho ou setembro de 2009. O Código do Consumidor veta remarcação de validade.
Procurado, o gerente-geral da importadora Beers on the Table, Fabrizio Grasso, informou que não tinha conhecimento d a segunda marcação, que também teria passado despercebida pelas autoridades brasileiras. "Acreditamos que o produtor, que manda toda a documentação em ordem, teoricamente não mandaria um lote supostamente alterado. Mas mantemos a crença no bom-senso e na boa-fé da empresa."
A importadora informou que recolherá do mercado garrafas com sobreposição de validade e enviou ao Paladar certificados de análise da Green’s, nos quais a validade apontada é 2011, mas a data de produção informada coincide com a de validade inicial dos rótulos.
Problemas à parte, as cervejas da Green’s que chegaram ao Brasil, feitas com grãos como sorgo, arroz, trigo-mouro e painço, têm em comum alguma acidez e aroma, com notas que remetem ao cítrico e algo medicinal. Analisá-las é tarefa complexa, pela falta de outras cervejas da categoria no País - há a Estrella Damm Daura, importada pela Brazil Ways, lager de aroma adocicado e um pouco mais amarga.
Apesar da variedade de estilos, paradoxalmente os rótulos mais interessantes foram duas pale lagers, a Trailblazer e a Pioneer, leves, refrescantes e despretensiosas. Como a categoria é, infelizmente, marcada por cervejas sem muita personalidade, a dupla da Green’s acaba se destacando.

ma 'loura' leve para sons pesados


Seguindo a fórmula que ganhou destaque este ano nos Estados Unidos com a Badass Beer de Kid Rock, a banda brasileira de heavy metal Sepultura deve colocar no mercado, até o início de 2010, a Sepulweiss. Feita em parceria com a cervejaria paulistana Fábrica do Chopp, ela será uma weiss (cerveja de trigo), com 4,4% de teor alcoólico e refermentada na garrafa.
O mestre-cervejeiro Michael Trommer, responsável pela empreitada, conta que a ideia nasceu quando o baixista do Sepultura, Paulo Xisto, provou sua weissbier. "Ele adorou e disse ter lembrado de outra cerveja do estilo que tomou na Alemanha. Daí veio o projeto."